Não
foi Nike, nem Penalty, fecharam com a Lupo! A notícia é velha, mas
acho a reflexão importante, principalmente devido ao
descontentamento de parte da torcida. O anúncio do novo fornecedor
de material esportivo do clube ocorreu no final de dezembro do ano
passado e foi feito pelo presidente Alexandre Kalil via seu perfil no
twitter. Uma forma pouco profissional, mas que já virou corriqueiro
no Galo. Segundo Kalil, o contrato será de 2 anos e irá render 25
milhões de reais aos cofres do Atlético, fazem parte desses valores
o material esportivo utilizado pelos jogadores e comercializado nas
Lojas do Galo. O acordo foi intermediado pela 9ine, agência de
marketing esportivo de propriedade de Ronaldo Fenômeno, e a empresa
promete fazer um grande evento para apresentar os novos uniformes com
a presença de ambos os Ronaldos, Fenômeno e Gaúcho.
A
marca Lupo Sport tem pouco mais de 4 anos de história e o Atlético
representa um salto importante para a marca que até então
patrocinava times sem grandes torcidas. Portuguesa, Guarani e São
Caetano não geram uma grande demanda por venda de uniformes. Com o
Atlético que vai disputar este ano a Libertadores, Copa do Brasil e
a Série A, a visibilidade da marca e a venda de produtos será muito
maior.
Justamente
por não ser uma marca de renome no setor esportivo, a parceria da
Lupo com o Galo provocou insatisfação em parte da torcida. Os
grandes clubes internacionais e seleções são atualmente disputados
por empresas multinacionais do setor esportivo, principalmente Nike,
Adidas e Puma. Marcas essas que povoam o imaginário de consumo de
grande parte dos torcedores. Utilizar essas marcas seria um sinal de
um bom poder aquisitivo, posição social e, em alguns casos,
demarcariam um estilo de vida. Desse modo, ver na camisa do Atlético
uma dessas marcas foi, de uma certa forma, um sonho para parte dos
torcedores do clube.
Seguindo
esse pensamento, alguns irão dizer que o Atlético saiu perdendo por
não se associar a grandes marcas como Nike ou Adidas. Porém não
considero que essa seja uma verdade absoluta no futebol. Qual o real
objetivo de um clube? Na minha opinião, a resposta é ganhar títulos
e ter uma grande legião de torcedores que gere recursos para manter
o crescimento do clube. Ostentar a marca Nike ou Adidas na camisa por
si só não atinge esse objetivo. É necessário que esse fato
provoque ganhos financeiros, seja através do pagamento por exposição
da marca ou pela venda de materiais oficiais do clube. Então, no
fundo, a questão continua sendo quem paga mais e quem melhor promove
o clube. E será que as camisas de Corinthians, Santos e
Internacional estão sendo vendidas em lojas da Nike pelo mundo a
fora? A minha impressão é que não. Acontece apenas em casos
especiais como o da Seleção Brasileira. Mas é bom lembrar que a
marca “Brasil” tem um renome que vem de muito antes da Nike
pensar em patrocinar a CBF. O nosso “futebol arte”, cinco vezes
campeão do mundo, gera uma grande demanda por camisas verde-amarelas
ao redor do mundo. E isso não acontece por simplesmente elas
ostentarem a marca Nike.
Futebol
também gera paixões estremadas e isso se reflete no consumo. Quem
compra produtos de um clube são em sua imensa maioria os seus
torcedores. Claro que existem exceções como o Barcelona, mas o
clube catalão deve muito de sua notoriedade aos títulos e ao belo
futebol praticado por Messi e companhia. Fora isso, consumidor de
camisa de time é geralmente o torcedor do time. Não adianta colocar
o símbolo da Nike achando que vai atrair os fãs de tal marca. Esses
entusiastas já possuem um clube de coração e, se não tiverem um,
não vão fazer uma escolha baseada simplesmente em um símbolo na
camisa. É a história familiar, do time, os títulos e a notoriedade
do clube que interferirão nessa escolha. Dessa forma o famoso
cobranding (união pontual de marcas de setores diferentes com um
determinado objetivo comercial) não funciona para o clube. O mesmo
não pode ser dito da empresa fornecedora de material esportivo, ela
sim pode transformar o torcedor de um clube em um fã de sua marca,
mas nunca o inverso.
Dessa
forma, a escolha do Kalil baseada na melhor oferta comercial foi a
correta. A Lupo também pretende inaugurar cerca de 50 lojas de sua
marca esportiva em todo o país. Ou seja, existe a possibilidade de
divulgar e oferecer produtos do Atlético com a marca Lupo Sport em
todo o país. É realmente um ganho, principalmente se você pensar
que nas Nike Stores existentes nos shoppings das principais capitais
não são comercializadas camisas de Corinthians, Internacional,
Coritiba, Bahia, Santos, etc.
Talvez
a única dúvida seja quanto a qualidade dos tecidos e da fabricação
do material esportivo. As camisas de Portuguesa e Guarani não são
um primor de estilo e acabamento. Mesmo não sendo tão importante a
marca presente na camisa, é justo oferecer um bom produto, afinal o
custo de uma camisa oficial é elevado e ela é uma importante forma
de identificação e divulgação da agremiação. Porém esse temor
talvez não seja justificado, a Lupo é uma grande indústria têxtil
e pelo que seus representantes vem afirmando, o Atlético representa
um grande desafio e a possibilidade de um grande salto mercadológico.
De qualquer forma essa questão só será esclarecida quando os novos
uniformes forem apresentados.